sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ANOTAÇÕES SOBRE A VIDA UNIVERSITÁRIA EM PIRACICABA - Década de 1960

No tempo de estudo preparatório para a entrada nas universidades ou para o mercado de trabalho, entre 1959/60, numerosos estudantes do curso cientifico e do clássico do Colégio Piracicabano e do Colégio Estadual Sud Menucci freqüentavam os bares e café que também eram freqüentados pelos estudantes de agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz e alguns poucos aposentados.

Os bares do centro da cidade e em volta do jardim da Praça José Bonifácio eram o Gioconda, o Brasserie, bar do Tanaka (em frente do Clube Coronel Barbosa) e Café Haiti (na rua Morais Barros, quase na esquina da Praça da Catedral), do Cine Broadway (na rua São Jose), na Leiteria Brasileira (esta na rua São Jose esquina da Praça José Bonifácio), no Bar e Café Nova Aurora.

Era comum esses estudantes e jovens piracicabanas andarem pela calçada de frente do Cine Politeama, no largo da Catedral, na Confeitaria do Passarela e Café Senadinho e da Leiteria Brasileira e ir as vezes até o Cine Broadway (na Rua São José). Andavam em fila de 3 a 4 “meninas” na calçada e na calçada e frente andavam os “meninos” para “paquerar” as garotas além de também “rodearem” as garotas na entrada do Cine Colonial na rua Benjamim Constant (onde hoje é a sede da Igreja Carismática).

Ao lado e no meio fio da calçada, e em frente ao café Haiti, muita vezes os jovens convidavam as “meninas” para conversas que geralmente terminavam em namoro. Também iam ao bar Nova Aurora, na esquina da Praça José Bonifácio, para tomar as cervejas e bater papo, porque agricolão” que se prezasse era formado em ‘bramalogia”. Ao final completavam a noite comprando pães na Padaria Inca para lanchar nas repúblicas.

O quarteirão onde se encontrava o Politeama (local onde anteriormente havia o Banco Comércio e Indústria, depois uma residência, a seguir a “Escola de Contabilidade Cristovão Colombo” do Zanin) ao lado uma sobrados de escritórios e bares a partir dos anos noventa foi ocupado pelas agências bancárias e em 2010 as agências do Bradesco, Itaú, e Nacional, e um estacionamento de carros pertencente aos mesmos bancos.

No café Haiti (na Rua Moraes Barros quase na esquina da Praça José Bonifácio) muitas vezes alguns estudantes mais abonados convidavam suas “minas” e amigos para tomar “banana split” com guaraná, ou então os freqüentadores antes e após do cinema paravam ali para tomarem café expresso de máquina italiana última novidade daquela época, completando a noite no Bar “Bola Sete”, do pai do Edson Carraro, um notívago F65, onde o Petrolisses, figura ímpar da cidade, tocava piano para alegrar os freqüentadores do Bar Bola Sete do Carraro.

A vida noturna e o comparecimento aos imprescindíveis cinemas e aos clubes sociais dos estudantes da escola Luiz de Queiróz e depois no início dos anos sessenta aumentou esta freqüência no centro da cidade com o funcionamento da então nova Faculdade de Odontologia de Piracicaba, inicialmente uma faculdade municipal que depois foi incorporada à Unicamp.

Alguns dos “agricolões” formados em 1965, os F65 ou da chamada “Turma de Ouro”, moraram em casas de familiares (os nativos) ou nas repúblicas (estrangeiros). Dessas, as que mais tiveram experiências notáveis foram: o Pito Aceso, Vai quem quer, Adega KTT, Mosteiro, Copacabana, Buraco do Sossego para se ter idéia do grande número delas e sua influência na vida social duma cidade que começava a desenvolver e poderíamos dizer que o município “partia para o arranque” em termos de desenvolvimento econômico.

Várias outras repúblicas permeavam na cidade toda de acordo com o interesse dos estudantes de agronomia de casa, locadas de acordo com suas disponibilidades financeiras eram: a Soroca, uma das mais velhas e celebres da cidade, na Rua Dom Pedro I, a dois quarteirões da estação da Estrada de Ferro Sorocabana; a Sputinik, Saudades da Mamãe, Maloca, Buraco de Onça, Fazendinha, Invernada, Senzala, Favela, Mansão dos Dráculas, Jacarepaguá, Até que enfim, KKareco, Rancho Fundo, Necrotério, Casa de Família, San Quentim, Baby Doll, RP., Monte Carlo, Império da Felicidade, Esplanada, Panela, Beco do Sossego, que foram e constam nos registros do livro “A Turma de Ouro” de outubro de 1990. Nestas repúblicas viveram os “atores” que criaram e viabilizaram a construção do Centro Acadêmico Luiz de Queiróz.

Em 16 de Setembro de 1962, foi inaugurada a Casa do Estudante da ESALQ, com a presença do Reitor da USP, Artur de Barros Ulhoa Cintra; do diretor da ESALQ, dr. Hugo de Almeida Leme;  do presidente e acadêmico do CALQ, Roberto Cano de Arruda; do prefeito municipal Alberto Cury(23/11/62 a 31/12/63), de José Calil, presidente da Sociedade Paulista de Agronomia, com a realização do coquetel e um churrasco na beira do rio, na final da rua da zootecnia da ESALQ.

No mesmo ano de 1961, Janio da Silva Quadros um governador que revolucionava administrativamente o estado e apoiava o ensino universitário consignou no orçamento verba de $3milhões de cruzeiros, para o CALQ, e conseguia uma autorização para a Caixa Econômica Federal emprestasse $6 milhões para a obra de construção.

Motivados pelo início da construção e obras do CALQ a Assembléia Legislativa onde agrônomos tinham no deputado estadual José Calil (engenheiro agrônomo) um defensor da classe na Sociedade Paulista de Agronomia, pois este conseguiu que o Centro Acadêmico (CALQ) fosse declarado de utilidade pública por lei estadual em 1962.

Apos os seis anos de construção foi inaugurada a nova sede do Centro Acadêmico, em 24 de Maio de 1963, e declarado de utilidade pública municipal pela Câmara Municipal de Piracicaba e em 1964, sancionada pelo prefeito da época Luciano Guidotti (11/1/64 a 07/7/68), prefeito este que estimulava a expansão da cidade, estimulava a criação de faculdades e criava novas perspectivas para o desenvolvimento da cidade, fazendo com que a imprensa local rotulasse a cidade de nova Atenas Paulista.

Envolveram-se por seis anos na construção da sede as diretorias do CALQ cujos presidentes foram os acadêmicos: José Cassiano Gomes dos Reis Jr., Antonio Guaçu D. Piteri, João Pinheiro da Silveira Filho, Roberto Cano de Arruda, Vitor Argollo Ferrão Neto, e Cristiano Valter Simon (Kixu).

José Cassiano Gomes dos Reis junto com o diretor da ESALQ, Dr. José Benedito de Camargo, conseguiram com o usucapião do terreno do CALQ com o apoio jurídico do advogado Jacob Diehl Neto.
A construção contou com a participação de uma plêiade de estudantes formados e numa Comissão de Construção do edifício do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz. Para a execução da obra e consolidação do CALQ. mas foi essencial a participação dos Antonio; o nosso Titico,que gerenciava o Calq, seu filho, e também o cobrador de mensalidades o “seu”Arlindo.

Lembramos que o Centro Acadêmico Luiz de Queiróz, com o qual os alunos tinham sonhado desde o ano de 1901, quando iniciaram suas atividades na escola, em fundar o Centro Acadêmico, inicialmente o Grêmio acadêmico Luiz de Queiroz, foi construído pelos colegas ainda estudantes mas com pensamentos de universitários formados .

Na inauguração da nova sede, em 24 de maio de 1963, estivam presentes o presidente do Calq, Roberto Cano de Arruda; o diretor da ESALQ, dr. Hugo de Almeida Leme; o advogado e benfeitor do Calq, Jacob Diehl Neto; o ex-presidente do CALQ, eng. agro. Guaçu Pieri; o presidente da Sociedade Paulista de Agronomia; eng. agro. José Calil diretor da mesma sociedade; o prefeito municipal de Piracicaba Luciano Guidotti e o ex-presidente do Calq, José Cassiano Gomes dos Reis.

As lembranças dessa inauguração e desse dia são inolvidáveis pelo que representou para os jovens estudantes de agronomia que deixaram uma sede que era um prédio velho, no sobrado das oficinas do Diário de Piracicaba, uma construção velha e depauperada, alugado pelos diretores, praticamente de favor, sem segurança para um prédio novo assobradado, com salão enorme, com inúmeras salas e funcional para atender aos alunos sócios da Esalq .

O funcionário do CALQ, que foi um gigante durante e após a inauguração foi Adriano Nogueira. Ele participou da construção do centro e foi convidado para falar durante as solenidades. Falou emocionado para a multidão presente na solenidade: “ No dia 24 de Maio passagem do 54º. da fundação do CALQ., Piracicaba irmanada à classe universitária rejubilou-se com a inauguração da sua sede própria da entidade representativa de dois alunos de nossa renomada escola de agronomia conforme consta em “Uma turma de Ouro” de Roberto Rodrigues.

Após outubro de 1965, deixava o cargo de presidente do Centro Acadêmico, Egon Janos Schatmanski, assumindo o cargo o acadêmico Arciley Alves Pinheiro.

O CALQ, na presidência de Cristiano Valter Simon, aceitou a imposição da denominação de Diretório Acadêmico, devido a Revolução de 31 de Março de 1964 e ficou com esta denominação até que assentou a “poeira”e o centro voltou a normalidade ao antigo nome, pois o Centro nunca mais foi o mesmo, e nunca teve mais a freqüência e a liderança de antes de sessenta e quatro, como pudemos ver nas visitas que vários formandos de sessenta e cinco faziam ao Centro Acadêmico Luis de Queiroz, quando comemoravam os qüinqüênios de formatura.

Este relato procura reviver a época de ouro e parte da vida acadêmica da TURMA de OURO, F.65, da ESALQ  (Escola superior de Agricultura Luiz de Queiróz).








Um comentário:

  1. Adorei o seu relato perfeito rememorando meus 5 anos de ESALQ. Sou da turma F-66 que fez historia. Este ano comemoramos em Pira nossos 55 anos. Éramos 151. Hoje ainda somos 102. Perdemos 49 preciosos colegas. O nosso grupo permanece com o espírito novo e já marcamos nossa próxima reunião em outubro de 2022.
    Forte abraço Esalqueano e Feliz 2022.

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