No tempo de estudo preparatório para a entrada nas universidades ou para o mercado de trabalho, entre 1959/60, muito estudante do curso cientifico e do clássico do Colégio Piracicabano e do Colégio Estadual Sud Menucci freqüentavam os bares e cafés que também eram freqüentados pelos estudantes de agronomia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz.
Freqüentavam os bares do centro da cidade estudantes, jovens professores e alguns poucos aposentados. Os bares do centro da cidade e em volta do jardim da Praça José Bonifácio eram o Gioconda, o Brasserie, bar do Tanaka (em frente do Clube Coronel Barbosa) e Café Haiti (na rua Morais Barros, quase na esquina da Praça da Catedral), do Cine Broadway (na rua São Jose), na Leiteria Brasileira (esta na rua São Jose esquina da Praça José Bonifácio), no Bar e Café Nova Aurora.
Era comum os estudantes e jovens piracicabanas andarem pela calçada de frente do Cine Politeama, no largo da Catedral, na Confeitaria do Passarela e Café Senadinho e da Leiteria Brasileira e ir as vezes até o Cine Broadway (na Rua São José). Andavam em fila de 3 a 4 “meninas” na calçada e na calçada e frente andavam os “meninos” para “paquerar” as garotas além de também “rodearem” as garotas na entrada do Cine Colonial na rua Benjamim Constant (onde hoje é a sede da Igreja Carismática).
Ao lado e no meio fio da calçada, e em frente ao café Haiti, muita vezes convidavam as “meninas” para conversas que geralmente terminavam em namoro. Também iam ao bar Nova Aurora, na esquina da Praça José Bonifácio, para tomar as cervejas e bater papo, porque agricolão” que se preze sempre foi formado em ‘bramalogia” e completavam a noite comprando pães na Padaria Inca, para lanchar nas repúblicas.
O quarteirão onde se encontrava o Politeama, antes dele havia o Banco Comércio e Indústria, depois uma residência, a seguir a “Escola de Contabilidade Cristovão Colombo” do Zanin, ao lado uma sobrados de escritórios e bares após os anos noventa foram ocupados pelas agências bancárias e em 2010 as agências do Bradesco, Itaú, e Nacional, e um estacionamento de carros pertencente aos mesmos bancos. No café Haiti (na Rua Moraes Barros quase na esquina da Praça José Bonifácio) muitas vezes alguns estudantes mais abonados convidavam suas “minas” e amigos para tomar “banana split” com guaraná, ou então os freqüentadores antes e após do cinema paravam ali para tomarem café expresso de máquina italiana ultima novidade daquela época, completando a noite no Bar “Bola Sete”, do pai do Edson Carraro, um notívago F65, onde o Petro-lisses figura ímpar da cidade que tocava de piano, para alegrar os freqüentadores.
A vida noturna e o comparecimento aos imprescindíveis cinemas e aos clubes sociais dos estudantes da escola Luiz de Queiroz e depois no inicio dos anos sessenta aumentou esta freqüência no centro da cidade com o funcionamento da nova Faculdade de Odontologia de Piracicaba, inicialmente uma faculdade municipal que depois foi incorporada à Unicamp .
Alguns dos “agricolões” formados em 1965 (os F65 ou da chamada “Turma de Ouro”) moraram em casas de familiares, ou seja, eram “nativos”. Outros moravam em casa alugadas por um grupo de estudantes nas chamadas repúblicas. Nesta época em que o município “partia para o arranque” em termos de desenvolvimento econômico havia muitas repúblicas que influenciavam sua vida social. As mais notáveis foram: o Pito Aceso, Vai quem quer, Adega KTT, Mosteiro, Copacabana, Buraco do Sossego.
Várias outras repúblicas existiam na cidade toda de acordo com o interesse dos estudantes de agronomia e suas disponibilidades financeiras. Citamos algumas delas: a Soroca; uma das mais velhas e celebres da cidade, na Rua Dom Pedro I, a dois quarteirões da estação da Estrada de Ferro Sorocabana, a Sputinik, Saudades da Mamãe, Maloca, Buraco de Onça, Fazendinha, Invernada, Senzala, Favela, Mansão dos Dráculas, Jacarepaguá, Até que enfim, KKareco, Rancho Fundo, Necrotério, Casa de Família, San Quentim, Baby Doll, RP., Monte Carlo, Império da Felicidade, Esplanada, Panela, Beco do Sossego (RODRIGUES, Roberto, “A Turma de Ouro”, 1990).
Nesta época também foi muito significativa a atuação do movimento estudantil representado pela construção da nova sede do CALQ (Centro Acadêmico Luis de Queirós). Os alunos sonhavam em construir uma sede para o Centro Acadêmico desde a primeira década do século XX quando iniciaram suas atividades na escola. Além disso, a diretoria e associados do CALQ lutaram para que a ESALQ-USP construísse uma moradia para os estudantes de menor poder aquisitivo. Resultado desse movimento foi a construção da moradia inaugurada em 16 de Setembro de 1962 com a presença do Reitor da USP, Artur de Barros Ulhoa Cintra, e o diretor da ESALQ dr. Hugo de Almeida Leme, do presidente e acadêmico do CALQ, Roberto Cano de Arruda (?), e o prefeito municipal Alberto Cury(23/11/62 a 31/12/63), de José Calil, presidente da Sociedade Paulista de Agronomia, com a realização do coquetel e um churrasco na beira do rio, na final da rua da zootecnia da ESALQ.
A inauguração da nova sede do CALQ foi em 24 de maio de 1963, com a presença do presidente do Calq, Roberto Cano de Arruda; do diretor da ESALQ, prof. dr. Hugo de Almeida Leme; do advogado e benfeitor do Calq, Jacob Diehl Neto; do ex-presidente do CALQ Guaçu Pieri; do presidente da Sociedade Paulista de Agronomia, José Calil; do prefeito municipal de Piracicaba Luciano Guidotti.
Em 1961, Janio da Silva Quadros, um governador que revolucionava administrativamente o estado e apoiando o ensino universitário consignou no orçamento verba de CR$3milhões de cruzeiros para o CALQ e conseguiu uma autorização para que a Caixa Econômica Federal emprestasse CR$6 milhões para a obra de construção da sede do CALQ.
A construção contou com a participação de uma plêiade de estudantes formados e com a Comissão de Construção do edifício do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, mas foi essencial a participação do Antonio (o nosso Titico) que gerenciava o Calq, seu filho bem como o cobrador de mensalidades o “seu”Arlindo. Motivados pelo início da construção do CALQ o deputado estadual José Calil (engenheiro agrônomo defensor da classe) conseguiu na Assembléia Legislativa que o CALQ fosse declarado de utilidade pública estadual em 1962.
Após seis anos de construção foi inaugurada a nova sede do CALQ, em 24 de Maio de 1963, e declarado de utilidade pública municipal pela Câmara Municipal de Piracicaba em 1964, lei sancionada pelo prefeito da época Luciano Guidotti (11/1/64 a 07/7/68), prefeito este que estimulava a expansão da cidade e a criação de faculdades e criava novas perspectivas para o desenvolvimento da cidade, fazendo com que a imprensa local rotulasse a cidade de nova Atenas Paulista.
Envolveram-se na construção as diretorias do CALQ por seis anos e tiveram como presidentes os acadêmicos: Cassiano Gomes dos Reis Jr., Antonio Guaçu D. Piteri, João Pinheiro da Silveira Filho, Roberto Cano de Arruda, Vitor Argollo Ferrão Neto, e Cristiano Walter Simon,( o Kixu, no ano 63/64) dos F65.
As lembranças dessa inauguração e desse dia são inolvidáveis, pelo que representou para os jovens estudantes de agronomia que deixaram uma sede que era um prédio velho, no sobrado das oficinas do Diário de Piracicaba, numa construção velha e depauperada, alugado pelos diretores, praticamente de favor, sem segurança para um prédio novo assobradado, com salão enorme, com inúmeras salas e funcional, para atender aos alunos sócios da Esalq .
Adriano Nogueira, funcionário do CALQ, foi um gigante durante e após a inauguração. Participou da construção do centro e foi convidado para falar durante as solenidades falou emocionado: “ No dia 24 de Maio passagem do 54º. da fundação do CALQ., Piracicaba irmanada à classe universitária rejubilou-se com a inauguração da sua sede própria da entidade representativa de dois alunos de nossa renomada escola de agronomia.” (RODRIGUES, Roberto, “A Turma de Ouro”, 1990),
Após outubro de 1965, deixava o cargo de presidente do Centro Acadêmico, Egon Janos Schat-manski, assumindo o cargo o acadêmico Arciley Alves Pinheiro.
O CALQ, na presidência de Cristiano Walter Simon, aceitou a imposição da denominação de Diretório Acadêmico, devido ao Golpe Militar de 31 de Março de 1964 e ficou com esta denominação até que assentou a “poeira”e o centro voltou à normalidade com seu antigo nome. Mas o Centro nunca mais foi o mesmo e nunca teve mais a freqüência e a liderança de antes de sessenta e quatro, como pudemos notar nas visitas que nós formandos de sessenta e cinco fizemos ao Centro Acadêmico Luis de Queiroz, quando comemorávamos os qüinqüênios de formatura.
Este relato procura reviver a época de ouro e parte da vida acadêmica da TURMA de OURO, F.65, da ESALQ.
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