Janeiro
a Fevereiro de 1961 - Estágio no Ministério da Agricultura-Departamento Produção
Vegetal em Porto Alegre (RS) e no Posto Agropecuário em Carazinho(R.S).
O
então ministro da Agricultura do Brasil, Renato Costa Lima (engenheiro agrônomo)
do Departamento de Produção Vegetal do Ministério, fez convênio com o CALQ (Centro
Acadêmico Luiz de Queiroz) da ESALQ-Piracicaba para contratar estudantes de
agronomia para realizar estágio no Brasil. Fez também convênios com todas as
escolas de agronomia do Brasil com o objetivo de treinar e capacitar os engenheiros
agrônomos em agronomia nas diversas regiões do país. Assim os estagiários das
escolas do norte vieram para o sul e os do sudoeste para o norte, tendo em
vista a ampliação dos horizontes científicos.
O
Ministério mandou as passagens aéreas e os estagiários seguiram viagens para
todos os rincões do país. Inicialmente foram
contratados os estudantes das últimas séries, mas como já eram férias havia
poucos colegas dos últimos anos e o CALQ aceitou as inscrições de alunos desde o
primeiro ano que estavam na cidade e praticamente todos eram piracicabanos.
Fomos
ao aeroporto Congonhas em São Paulo e segui viagem com mais quatro colegas especificamente
para o Rio Grande do Sul, onde tinha escolhido. Lá no Departamento de Fomento Agrícola de Porto
Alegre, encontramos com um estagiário da ENA (Escola Nacional de Agronomia) e
outro da Escola Superior Federal de Agronomia do Ceará.
Em Porto Alegre fomos
recebidos pelo Diretor, deste
Departamento, que procurou saber o objetivo do estágio e depois programou conosco
as visitas para conhecermos o maior número de locais e atividades ligadas à
agricultura e pecuária do Rio Grande do
Sul.
Primeiramente fomos
levados à fábrica de tratores e implementos da Masey Ferguson para conhecermos os métodos e a fabricação de implementos agrícolas. Depois fomos
para as instalações da SANRIG (Sociedade Algodoeira do Nordeste do Rio Grande
do Sul) onde conhecemos o método de industrialização, recebemos amostras das
primeiras margarinas e de soja e outros produtos derivados da soja que estava
em começo de produção no Brasil. Experimentamos os produtos e notamos que a
qualidade dos derivados de soja era bem melhor do que as vendidas em São Paulo.
Após a visita da SANRIG, fomos á Estação
experimental do IRGA (Instituto Rio Grandense de Arroz) do Ministério da Agricultura
em Viamão na Grande Porto Alegre para conhecermos os novos cultivares de arroz do
Instituto. Eles tinham produtividade de até 10.000 quilos por hectare em
“quadra” alagada e com água corrente. Vimos no IRGA os primeiros usos de
herbicida seletivo - Stam F34 - em arroz inundado, em quadra, com grande
sucesso.
A
seguir fomos levados ao “Banhado do Colégio” onde estava ocorrendo uma das
primeiras experiências de Reforma Agrária no Rio Grande do Sul, implantada pelo
Governo Leonel Brizola do PTB- RS numa fazenda desapropriada na área drenada da Lagoa
dos Patos que tinha sido invadida pelos vizinhos da área drenada. Ali seria cultivado arroz irrigado pelos
colonos selecionados pelo Instituto Riograndense de Reforma Agrária (IRGRA).
Depois
fomos para o Posto Agropecuário de Carazinho que funcionava numa fazenda dirigida por um engenheiro
agrônomo, com todas as condições para receber estudantes, profissionais e
agricultores para treinamento, bem como para servir de apoio de mecanização e
conservação do solo, para agricultores dos municípios entorno do Posto.
Fomos visitar, com o
engenheiro agrônomo responsável deste PAP, o “Moinho de Trigo de Não Me Toque” do
Ministério da Agricultura e várias fazendas de soja no entorno do posto e em
Passo Fundo onde vimos os serviços de terraceamento de base larga com desnível para
a faixa de descarga gramadas, do excesso
de água nas chuvas pesadas nos solos vermelhos
e argilosos (latossóis) da região, para evitar erosão e permitir a colheita
mecanizada .
Era
notável a influência do Posto, que era todo conservado com terraços de base
larga, e com desnível para saída das águas residuais de chuvas, bem como a
organização e manutenção das instalações do PAP pelo engenheiro agrônomo que
tinha verbas limitadas e complementadas com a produção e venda de sementes de pensacola, soja, trigo,e
outras forrageiras de inverno.
Esta
demonstração de conservação do solo e os serviços de máquinas executados por operadores
do Posto se espalharam pelas fazendas de Carazinho e Passo Fundo, com terraços
de base larga, em praticamente todas as propriedades que plantavam soja-trigo. Isto
deixou a nós estudantes – estagiários impressionados pela adoção da
técnica por todos na região já 1961!!! Também soubemos pelo engenheiro
agrônomo que eram feitas demonstrações e implantação de conservação do solo com
as máquinas e implementos do PAP de Carazinho. Além disso, este Posto prestava
serviço para a construção e manutenção das operações de Conservação do solo das
fazendas do município e seus arredores.
Como
as verbas de manutenção do Ministério no começo do ano demoravam a chegar o
chefe do Posto nos dividiu em equipes e nos incumbiu de realizar os trabalhos rotineiros de colheita da grama “pensacola bahia grass”(grama
para pastoreio), cornichão e também arar, gradear as terras para o preparo de plantio
de inverno das áreas do PAP.
As
refeições e alojamentos eram fornecidos pelo Posto nas instalações que já
existiam para tal, praticamente com verbas geradas pelo próprio Posto.
O
engenheiro agrônomo Chefe se desdobrava e conseguia visitas às melhores
fazendas que plantavam trigo e soja na região, sendo que todas elas tinham conservação
do solo; terraços e quebras-vento em torno das construções e benfeitorias em
todas as propriedades visitadas devido ao clima com inverno rigoroso.
Também
possibilitou que nós praticássemos a aração, gradeação em toda a área a ser
plantada no inverno/verão; que fizéssemos a colheita de sementes (de capim), a prática
da manutenção e abastecimento dos equipamentos nas oficinas do PAP e pelo que
observamos nunca antes visto pelos estagiários e estudantes de agronomia.
Todos
os estagiários de escolas de agronomia de São Paulo ao Rio Grande do Norte, com
quem estive ficaram entusiasmados com as
técnicas e avanços da agricultura do Rio Grande do Sul ( terraços, faixas de
retenção,quebra-ventos plantados, aração com reversível, plantio de arroz
irrigados por inundação, colheita mecanizada com colheitadeiras automotrizes,
secagem das quadras inundadas para colheita do arroz) e gados de raças
européias tipo Aberdeen Angus , Polled Angus, Hereford, e outras.
Ao
término do estágio, os estudantes-estagiários estavam ansiosos para chegar o
mais rápido possível às suas casas. Ficamos sabendo que havia um avião de
aluguel - um antigo DC2-Douglas - no aeroporto de Passo Fundo com destino à
Porto Alegre. Assim, contratamos este avião para voltar para Porto Alegre. Junto
com nós - sete estudantes de agronomia- foi
um senhor doente com soro instalado e enfermeiro, com destino ao
Hospital Geral de Porto Alegre. E lá fomos nós, sentados em poltronas
improvisadas, ao lado do doente terminal, para mais uma experiência de vida.
A
viagem foi tranqüila e chegando á Porto Alegre fomos ao Departamento de
Produção Vegetal (PDV) nos despedir após
receber os valores do nosso estágio. À noite fomos conhecer a vida noturna portoalegrense
e dormir na Casa do Estudante na rua da “Praia” até o dia da viagem para São
Paulo.
O estágio foi útil e benéfico para todos nos,
pois tínhamos pouco ou nenhum conhecimento da técnica de plantio de arroz
irrigado em quadras irrigáveis, do capim pensacola, e nenhum de nos tínhamos visto terraços de base
larga com plantio e colheita em cima desses terraços, e em desnível, poucos
tinham operado e visto arado reversível e a colheitadeira automotriz. Além disso,
poucos de nós conhecíamos Porto Alegre e
seus arredores, e assim cacabamos por ampliar nossos horizontes sobre a agricultura
nacional e o Brasil .
Comparamos a ação de extensão rural deste Posto com o da Fazenda Ipanema, localizada em Iperó, na época
pertencente á Sorocaba S.P., também do ETA, com instalações, máquinas e equipamentos semelhantes.
A diferença é que em Carazinho havia uma agricultura empresarial e técnica nas
vizinhanças e houve absorção da tecnologia de mecanização e conservação do
solo.
Faço essas considerações com base em minha participação no curso de
treinamento em conservação do solo promovido pela Secretaria da Agricultura na
década de setenta e no Projeto de Microbacias Hidrográficas na década de
oitenta –noventa.
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